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quarta-feira, abril 21, 2004

Só porque é bonito

(Lamento por Art O'Leary, atribuído a Eileen Dubh O’Conell, 1773; in Keneth Hurlstone Jackson “A Celtic Miscellany”; traduzido do Inglês por Miguel Esteves Cardoso, 1992)

Meu sempre amado de minh’alma, no dia em que te vi na praça, os meus olhos abriram-se para ti, o meu coração deu-se ao amor; eu fugi contigo de minha família, fugi contigo para longe do meu lar.

Nunca me arrependi. Deste-me uma sala e encheste-a de luz por mim, quartos decorados para mim, um forno aquecido para mim, pão que cozeste para mim, carne assada no espeto para mim, bois que mataste por mim, e eu dormi em penas de pato até ser manhã alta, ou mais tarde se me apetecesse.


(...)

Ai que longo o meu luto, que amarga minha tristeza, de não ter estado ao teu lado quando te dispararam a bala! Pudesse eu apanhá-la no meu lado direito, no colo da minha bata, e deixar-te fugir para os montes, meu cavaleiro de mãos tão meigas!

(...)

Que te venham incêndios e destruições, odioso e traiçoeiro Morris! Que me roubaste o meu marido, pai de minhas crianças pequenas, duas delas já a andar pela casa, e o terceiro no meu ventre, e eu sem saber se serei capaz de o parir.

(...)

Meu amor e meu querido, Art O’Leary, filho de Conor, filho de Keady, filho de Louis O’Leary! A oeste de Gearagh e a leste de Greenan (onde nascem as amoras, e amêndoas amarelas sobre os ramos, e maçãs às mãos cheias na época certa), ninguém se admiraria se Iveleary pegasse fogo, e Ballingeary e a sagrada Gouganebarra, pelo cavaleiro das mãos tão meigas, capaz de cansar qualquer pessoa, correndo por Grenagh adentro, mesmo depois dos galgos terem desistido. Ò cavaleiro dos olhos rápidos, que te aconteceu ontem à noite? Porque eu pensava, quando te comprei tua roupa, que nem o mundo inteiro era capaz de te matar.

(...)

Meu amor, meu tesouro secreto, as tuas medas estão armadas, as tuas vacas estão a ser mungidas; e em meu coração existe por ti um luto que nem a província inteira de Munster poderia curar, nem todos os artesãos da Irlanda. Até voltar a mim Art O’Leary a minha mágoa não há-de ser espalhada, porque está esmagada no fundo do meu coração, fechada até fazer sangue, como a fechadura duma arca cuja chave está há muito perdida.

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