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sexta-feira, agosto 22, 2003

Comboios

Apaixonei-me pelos comboios há quinze anos, quando arranjei um "trabalho" de Verão (está entre aspas porque, com essas idades, uma coisa do género é mais diversão paga do que trabalho, não é?) numa empresa de estudos de mercado que efectuava um estudo para a CP. Nesse Verão, conheci muitas linhas de comboio e dormi em muitas estações. Apanhei aquele gingar no andar que só os marinheiros e os revisores de comboio têm, aquele truque que nos permite percorrer carruagens e escrever ao mesmo tempo sem nos agarrarmos a nada.

Quando digo comboios, não falo dos comboios suburbanos, plastificados, confortáveis e com ar-condicionado. Nem sequer me refiro aos Alfa (os Pendulares são mais recentes, não conheço). O que eu gosto mesmo são os Inter-regionais. Aqueles comboios de ferro, barulhentos, sacolejantes, e a cheirar a óleo.

Há uns anitos que não fazia uma viagenzinha de comboio, e agora fiquei a pensar porquê. É mais barato que ir de carro. Não dá trabalho nenhum. A paisagem é sempre bonita porque geralmente as linhas passam fora das povoações. As estações por esse país fora são lindíssimas. Podemos dormir, ler, fazer palavras cruzadas.

E redescobri uma coisa: deve ser o único transporte público onde ainda se pode fumar. Instintivamente, assim que me aproximei do comboio parado na estação, procurei as carruagens de fumadores como sempre fiz, e... surpresa das surpresas, lá estavam elas. Com os mesmos típicos cinzeiros de metal que quando se fecham fazem o mesmo barulho de um isqueiro Zippo a fechar, ao ponto de se ficar com a sensação que na carruagem todos os fumadores acendem os seus cigarros com Zippos.

Só quem já enfiou a cabeça de fora da janela ao abrandar do comboio na chegada a uma estação e disse "Olha, chegámos a Retretes", é que compreende o fascínio de andar de comboio nas linhas de Portugal.

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