Pouco depois de eu me mudar para esta casa, abriu um café mesmo por baixo da minha porta. Como viciada em cafeína que sou, melhor não podia ser e acho que devem ter sido muito poucos os dias desde então em que lá não entrei. Inevitavelmente criou-se uma relação de certa forma próxima, não só com o pessoal mas com a vizinhança que o frequentava. Como trabalho em casa, não sou daquelas pessoas que saem de manhã e chegam à noite e não conhecem ninguém onde moram. Eu conheço os vizinhos e o pessoal da rua e gosto de cultivar este tipo de relação quase em desuso.
Depois engravidei e a filha nasceu e tornou-se o «ai jesus» aqui da rua, claro. Aqui no café, as pessoas viram-na crescer todos os dias e ela habituou-se ao sítio e a toda a gente. Muitas vezes, o pessoal do café e as vizinhas foram uma ajuda importante para tomar conta dela 5 minutos enquanto eu vinha pôr as compras ao 4º andar ou punha e tirava o carrinho dela do carro, ou para lhe pegarem enquanto eu bebia a bica ou vinha à rua fumar um cigarrito (isto antes de ela conseguir correr atrás de mim, claro). A filha estava ali como em casa, conhecia os cantos todos, já sabia onde podia e não podia mexer, para que cadeiras podia subir e quais as que não eram seguras; aprendeu ali a subir e a descer escadas, num degrau que havia ao canto onde gostava de se empoleirar e sentar.
Infelizmente, a crise não foi amiga e o café fechou ontem. A mim vai-me fazer falta, mas o que me deixa mesmo triste é pensar como ela vai estranhar. Pois claro que uma criança de ano e meio rapidamente esquece e se adapta e não faltam cafés aqui na zona; havemos de encontrar as mesmas vizinhas noutro sítio qualquer. Mas palavra que fiquei de nó na garganta quando lá passámos hoje e ela não largava as grades fechadas com um ar muito confuso... E como «quem meus filhos beija, minha boca adoça», eu gostava mesmo das pessoas que lá estavam a trabalhar.
Quando penso na quantidade de cafés onde parei e que fecharam ao longo dos anos, sem me aborrecer minimamente, percebo que esta é mais uma daquelas coisas que mudaram com a chegada da filha: não quero que nada abale o seu mundinho feliz, não quero que ela fique triste com nada, não quero que sinta falta de nada nem de ninguém... Por mais que saiba que a vida é assim e ela tem de passar por todas essas coisas, não consigo evitar dar demasiada importância a uma coisa tão pequena como o fecho do café onde costumávamos ir.
domingo, junho 14, 2009
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1 comentário:
Pois aproveita ao máximo esses momentos, porque num instante vão chegar os outros...aqueles em que lhe imploras que não passe a vida no café...isto se calhar já é hereditário...:-))
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